Como conseguir que seu livro seja lido? Mais um capítulo postado!!



Acredito que uma das maiores questões para escritores iniciantes é conseguir um público. Com a quantidade enorme de material que está disponível, tanto em formato físico quanto em eletrônico, o seu trabalho corre o sério risco de nunca ser visto. E então você se pergunta: como conseguir que seu livro seja lido?
Afinal, um escritor não existe sem leitores. É apenas um louco falando sozinho no meio do deserto. 
Quando pensei em começar a escrever, achava que o maior desafio seria a escrita em si. Ledo engano! 
Claro que existem várias ferramentas que podem ser usadas, mas isso demanda tempo e dedicação que acabam sendo roubados do seu verdadeiro projeto: escrever o livro!
Vamos ser sinceros, não quero ficar gerenciando redes sociais, planejando marketing, caçando seguidores, coletando e-mails ou fazer vídeos (Deus me livre disso!) para o youtube. Quero apenas escrever! 
Apesar desse surto de pessoa antissocial, tenho tentado ser boazinha e correr atrás dos leitores, mas esse é um trabalho muito lento. 
Faz um mês que comecei a postar os capítulos do meu livro "Borboletas" aqui e no Wattpad. Só que é muito difícil conseguir atenção em meio a tantos outros trabalhos.
O maior benefício foi vencer a procrastinação, pois criei um compromisso com as pessoas que estão lendo o meu trabalho. 
No momento, estou tentando focar em escrever sempre e terminar o bendito livro. Depois que ele estiver pronto e revisado - o que já vai ser uma enorme vitória - vou pensar em como tirá-lo do anonimato.
Dito isso, vamos ao capítulo. 








"Não podemos ficar à espera da inspiração. Temos de ir procurá-la num bar."
Jack London

Capítulo 7
Se tivesse pensado no trabalho que daria para chegar, não teria aceitado o convite. Era fim de tarde, mas já estava escuro e parecia que ia chover.
Saiu do prédio e adiantou o passo, costurando por entre os camelôs que vendiam cigarros contrabandeados, DVDs piratas e outros produtos de origem duvidosa. Assim que chegou no ponto, conseguiu pegar o ônibus. Pura sorte.
Quarenta minutos e muitos solavancos depois estava dentro da barca. Sentou na janela. Já estava escuro para ver o mar, mas podia sentir o seu cheiro salgado. Não trouxera nada pra ler, então aproveitou o tempo para observar as pessoas ao redor.
Um escritor é meio antropólogo, sempre pesquisando sobre a humanidade. Algumas pessoas dormem, outras conversam, mas a grande maioria está com o rosto enfiado na tela, absortos no seu mundo digital.
Seus olhos param numa jovem de cabelos ruivos que está procurando algo na mochila. Ela retira um livro e se acomoda para ler. É feito uma planta que teima em crescer pelas rachaduras do cimento.
A moça está lendo "Americanah". Um pequeno sorriso se espalha pelo rosto de Lúcia. Fecha os olhos e volta a apreciar o mar que não vê, mas sente.
Não foi uma travessia tranquila, mas melhor do que pela ponte. A multidão se amontoa esperando a embarcação atracar. O mar está agitado e faz frio. O barulho de metal contra metal assusta. Demora até que a massa uniforme de gente comece a andar.
Ela segue pelas ruas do centro com passos rápidos e uma certa ansiedade, afinal, já é noite. Em poucos minutos, chega ao lugar combinado.
A proposta do espaço era parecer um armazém antigo, desses de interior, que vendem de tudo e também servem bebidas. Um cantor vestido em estilo country, com chapéu e tudo, tocando moda de viola.
Não era muito a sua praia, mas Beto estava tão entusiasmado quando sugeriu o local que teve de concordar.
Chegou antes do horário combinado. A viagem correra melhor do que o esperado. Pediu um chope e pegou o celular para mandar uma mensagem avisando que já estava lá.
Olhou ao redor. Parecia a única pessoa sozinha ali. Quando se está solitária parece que todos estão com alguém. Se sentiu ridícula com esse pensamento. Não era nenhuma adolescente, tinha que ser madura. Podia, não, precisava ficar sozinha! Tinha sido escolha sua.
Começou a prestar atenção na letra da música. Era algo triste e choroso. Bem o estilo de Beto. Seu amigo era um cara grande, com uma voz potente e grossa, sempre falava alto e gesticulava muito. Quando fechava a cara era de assustar, mas na realidade era romântico e doce.
Notificação de mensagem. Um monte de emojis como resposta. Parecia um menino grande.
Lúcia pediu um chope. Pegou a caneta na bolsa e começou a rabiscar a toalha de papel da mesa. De repente, as palavras começaram a fluir. Começou a escrever e deixou de ouvir os sons do bar. Escrevendo, escrevendo, escrevendo. Escrevia tão rápido que a sua letra parecia um grande rabisco.
Um toque no ombro a fez parar e largar a caneta que rolou pela mesa em direção à borda. Ficou parada olhando a caneta se aproximar da queda. Uma mão grande pegou a caneta no ar antes que caísse no chão. Olhou para cima e viu Beto sorrindo para ela. Sorriu de volta. Ele olhou para a mesa.
"Nossa, já vi gente que escreve no guardanapo, mas na mesa toda é a primeira vez."
A sua letra se espalhava por todo lado e o suor do copo de chope borrava algumas palavras. Nem tinha visto o garçom trazer a bebida. Ficou sem graça com a sua maluquice.
"Você pretende levar a toalha com você?" Ele sentou, entregou a caneta, chamou o garçom e fez seu pedido.
"Não pensei nisso. Só comecei a escrever. Você sabe que sou maluca."
"Bom, então o livro está indo de vento em popa."
"Não exatamente." O garçom trouxe o chope e ficou olhando a mesa com cara de bobo. Nunca viu ninguém escrever no papel da mesa antes?
"Pode começar a abrir o bico." cruzou os braços fazendo cara de policial.
"Sei lá, estou meio empacada com o livro. Precisando de novos ares." Disse ela enquanto mexia com o pingente do cordão.
"Já tem algum plano pro fim de semana?" Disse ele e começou a beber seu chope.
"Minha mãe está insistindo para eu passar uns dias lá com ela. Meu irmão vai com a esposa e os filhos. Não tenho certeza se é uma boa ideia." Disse Lúcia colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha enquanto olhava o copo ainda cheio na sua frente.
"Realmente um programão, final de semana com crianças gritando e correndo por todo lado." disse Roberto e engoliu o resto de seu chope, colocando o copo na mesa com cuidado, evitando as palavras que enchiam o papel.
"Não é nada disso, eu adoro as crianças." o aborrecimento transformou o rosto de Lúcia. "Porque todo munda acha que se você não tem filhos é algum tipo de bruxa malvada que odeia criança?" Disse Lúcia cruzando os braços.
"Não falei nada disso." Roberto levanta as mãos em sinal de rendição. "Nunca pensaria nada assim de você, foi só uma brincadeira não quis te chatear."
"Eu sei. Estou meio pirada hoje." Disse ela prendendo o cabelo com a caneta. "Desculpa. Sempre que falo com minha mãe fico assim. Eu a amo, mas ela consegue me fazer me sentir errada. Para minha família sou a pessoa do sem: sem marido, sem filhos, sem emprego." Pega o copo e começa a beber seu chope meio quente.
"Sabe, eu simplesmente não posso concordar com a visão de que a vida é incompleta, insatisfeita ou egoísta sem filhos. É apenas diferente." Disse Lúcia fazendo um esforço para terminar a bebida.
"Concordo plenamente. E tem mais, pra mim você é a pessoa mais completa, cheia de talento e de força para correr atrás dos sonhos que conheço."
Lúcia solta um grande suspiro e começou a contar ao amigo sobre o drama do seu projeto que não andava. De como estava tendo uma dificuldade enorme para escrever e de que já estava super atrasada no seu cronograma. Falava feito louca, quase sem respirar. Falava muito quando ficava tensa.
Roberto estava prestando a maior atenção em tudo que ela falava. Os lábios dele estavam entreabertos enquanto olhava nos olhos de Lúcia. Era um ótimo ouvinte. Adorava isso nele. Pensava que fosse uma coisa de policial. Pelo menos ele não ficava anotando tudo em um bloco como se vê em filmes e livros.
Na vida real nunca tinha visto um policial com um bloco de notas. Teve vontade de perguntar se ele fazia isso, se anotava quando fazia perguntas sobre um crime. Lembrou então do escritor encontrado morto.
"Tenho um pequeno mistério para você." Pegou na bolsa as folhas com a matéria da internet sobre a morte e entregou para que ele lesse.
"Esse escritor morreu na semana passada. Não chegava a ser conhecido do grande público, mas tinha um bom número de fãs que acompanhavam sua carreira." Observou uma ruga na testa de Beto que sempre aparecia quando ele se concentrava.
"Escreveu três livros nos últimos anos e ganhou um prêmio no início do ano. Procurei por todo lado e até liguei para algumas pessoas. Ninguém sabe dizer nada. Não é estranho ninguém mencionar a causa da morte?"
"Posso até perguntar para uns colegas, mas acho que já tenho solução para o seu mistério." Disse devolvendo os papéis. "Pode ter sido suicídio."
"De onde você tirou isso?" Começou a olhar os papéis para ver se tinha perdida alguma coisa.
"É o que explicaria a falta de informações. Ninguém gosta de falar no assunto. As autoridades evitam ao máximo dar detalhes sobre esse tipo de coisa para evitar novos suicídios."
O amigo começou a explicar sobre suicídio copiado e as pesquisas que dizem ser possível que pessoas com tendências suicidas copiem a forma de morrer de pessoas famosas. Segundo ele, a organização mundial de saúde tinha até orientações de como os meios de comunicação deveriam tratar do assunto. Não divulgar os detalhes era uma delas.
"Amigos e família também evitam falar sobre isso. É um tema bastante delicado." Disse Roberto e gesticulou para o garçom pedindo mais dois chopes.
O garçom trouxe as bebidas e eles continuaram a conversar sobre o perigo de uma matéria sensacionalista e o efeito que poderia ter sobre pessoas frágeis, deprimidas e que estão sofrendo. Tudo em que Lúcia podia pensar era como é grande o poder daquilo que se escreve.
***
Gostou do capítulo? Então deixe seu comentário. Críticas construtivas são bem vindas. Agradeço muito pela leitura e qualquer opinião sobre os personagens, a trama, ou qualquer outro aspecto do texto serão de grande ajuda para mim.
R. M. Marron

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