Novo Capítulo do livro "Borboletas" postado.

Olá, queridos leitores! 
Hoje estou postando mais um Capítulo do meu livro "Borboletas". 
O livro também está sendo atualizado no Wattpad. Agradeço muito a todos que estão  dedicando seu tempo a leitura do meu trabalho. 
O compromisso de ir partilhando cada passo da minha escrita tem me ajudado muito a não abandonar o projeto. Esse é apenas o primeiro rascunho do livro que deverá passar por algumas revisões quando estiver concluído. Por isso, seus comentários e sugestões me ajudariam muito. Dito isso, vamos ao Capítulo:

Capítulo 8


Abriu os olhos devagar, com cuidado. Sentia-se grogue, como se tivesse cochilado em um veículo em movimento. Olhando em volta, percebeu que estava no seu quarto. Estava escuro. Rolou para verificar a hora no despertador. Ele escutou a máquina girar em câmera lenta com um som enervante.
Primeiro lentamente e depois mais rápido, os números começaram a piscar enquanto um líquido espesso começou a sair da caixa do relógio. Sangue. Jorrava dos botões e começava a cair na cama. O sangue se acumulava ao redor e sentia vagamente que estava saindo de seu corpo. Cada veia e artéria explodindo, inundando o quarto e sua consciência como uma corrente de água sempre fluindo.
A quantidade de líquido vermelho continuou aumentando e se espalhou. Não conseguia se levantar, apenas se revirava, tudo ficando vermelho ao redor dele, não podia respirar. Sentia seu corpo se transformar completamente em líquido, seu espírito se elevando até que ele pudesse ver seu corpo submerso de cima. O sangue continuou a jorrar e de repente ele perdeu sua forma completamente.
Com um sobressalto ele acordou, sem sangue algum ameaçando afogá-lo. Estava suado e o coração corria em seu peito. Era dia e o despertador, inocente, lhe dizia que tinha dormido demais.
Apesar de todo o horror desse pesadelo se sentia aliviado por não ter sonhado novamente com a mãe. No sonho ela falava com ele, mas não conseguia ouvi-la, apenas via sua boca se mexendo e seus olhos cheios de lágrimas. Era angustiante não saber o que ela lhe dizia. Depois de tanto tempo, ainda esperava que ela dissesse o porquê.
Virou-se na cama e tocou com carinho o nome da mãe datilografado na folha amarelada ao seu lado. Tinha ficado acordado até tarde, lendo e relendo em busca de respostas, tentando entender.
Respirou algumas vezes tentando acalmar seu coração. Pensou que gostaria de ter mantido a velha máquina de escrever, mas tinha sido o primeiro alvo da ira do pai, espatifada contra a parede. Só pudera salvar o original inacabado em que a mãe trabalhava quando tudo aconteceu.
A mãe dele era uma grande artista, uma escritora inspirada e profunda. Sua vida era aquele livro que quase tinha sido destruído pelo pai ensandecido por perdê-la. Tivera sorte em conseguir recolher todas as páginas que se espalharam pelo escritório.
Do pouco tempo que passara junto dela, três momentos vinham mais vivos à sua mente.
É de manhã, o sorriso dela iluminava o mundo, ele era apenas um menino e estavam na praia brincando na areia. As ondas derrubavam o castelo e eles riam juntos. O riso dela era algo raro e mágico. Não se lembrava de terem voltado à praia. Essa era sua lembrança mais antiga.
É de tarde, estava voltando da escola e podia ouvir o som da máquina de escrever. Como ficava feliz com aquele som se espalhando pela casa. Correu para o escritório e ela o pegou ao colo. Sua atenção dedicada totalmente a ele. Em momentos como esse tudo ficava bem. Não duravam muito. Parecia que havia algo quebrado que não podia ser consertado.
É noite, ouvia o som triste do choro dela no quarto ao lado. O ruído do choro sempre ultrapassa as paredes por mais baixo que seja. Era uma agonia. Tentava abafar o som com o travesseiro e pensava: isso precisa parar. Depois que tudo aconteceu, só restou o silêncio.
Naqueles momentos, poderia saber que logo ela iria deixá-lo? Poderia ter feito algo para evitar o que aconteceu depois? Não derramara uma lágrima quando ela morreu. Já tinha chorado demais.
Tentou se levantar da cama, mas o quarto girou. Sua cabeça estava latejando. Fechou os olhos recostou a cabeça. Outra lembrança surgiu na sua cabeça, como um filme, uma imagem clara se formando dentro da sua mente:
O sangue formando uma poça espessa debaixo do corpo. A faca jogada no tapete. O vestido dela que ficou vermelho. O tapete que ficou vermelho. A sala que ficou vermelha. Ela estava tão linda ali deitada no vermelho. O rosto dela parecia tão bonito. Calmo. Sem o sofrimento que constantemente retorcia suas feições. Como no fim de uma metamorfose, ela voava para longe. 
***
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R. M. Marron

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