Novo capítulo de "Borboletas".





Mais um capítulo chegando no meu livro em produção "Borboletas".

Opiniões e comentários são muito importantes.

Capítulo 4

A primeira noite após terminar o livro. Maurício sabia que uma sensação de vazio se aproximava. Sempre acontecia da mesma forma. Primeiro, euforia por ter terminado o projeto, com ligações e postagens sobre o assunto. Depois, uma desolação que o acompanhava até o lançamento.
Ele se deitou no sofá. A mancha no teto estava cada vez maior. Precisava tomar uma providência. Levantou e foi até a cozinha interfonar para o senhor Francisco. Ninguém atendeu na portaria. Desiste e resolve pegar uma cerveja.
Assim que se deita, a campainha toca. Não estava esperando ninguém. Vai até a porta bufando. Olha pelo olho mágico e abre um sorriso.
“Que surpresa boa! Entra, puxa que coincidência, justamente a pessoa com quem eu queria falar. Senta aqui.” Indicou o sofá. “Quer uma cerveja? ”
“Não. Estou dirigindo. ” O convidado entra e se senta no sofá mantendo as mãos no bolso.
“Um refrigerante ou água?” A visita se limitou a sacudir negativamente a cabeça.
“Então, terminou?” Sentou na cadeira em frente ao sofá e ficou parado com o olhar de expectativa.
“Sim.” Sua expressão não revelava nenhuma emoção, parecia uma máscara e não um rosto.
“Deus, assim você me mata de suspense! Fala logo o que você achou.”
“Você mudou o final. Ficou muito clichê. Justamente aquilo que nós tínhamos conversado.” O visitante juntou as mãos sobre o colo e se recostou no sofá.
“Pois é ... resolvi seguir a recomendação do editor. Ele achou que aquele final não agradaria o público.”
“Quando nós conversamos, você deixou claro que o final era algo muito importante para a mensagem que queria transmitir.” Levantou-se e começou a andar pela sala, gesticulando. “Era brilhante! Inesperado! Era o seu final! ”
“Uma ideia brilhante não vale nada se ninguém lê.” Foi andando atrás do outro que lhe virou as costas e foi em direção à varanda. “Quero ser lido! Ter uma carreira de sucesso e vender muitos livros. Para isso tenho de seguir os conselhos de quem entende.”
“Isso é uma falsificação, uma mentira! Você não pode alterar as suas ideias e convicções para agradar alguns idiotas sem valor. Os verdadeiros leitores compreenderão a mensagem. Tenho certeza.” Era possível ver uma veia saltada nas têmporas.
“Não foi essa a opinião da editora. O mercado editorial é muito disputado. É necessário usar alguns artifícios para tornar o material mais apropriado para o público leitor.” Maurício colocou o pé direito no guarda corpo da varanda e se apoiou com a mão esquerda enquanto tomava o último gole, depois colocou a garrafa vazia na beirada.
“Eu realmente pensei que você fosse capaz. No início, achei que amasse escrever. Hoje percebo que você ama a fama.” O visitante abaixou seu tom enquanto observa o homem ao seu lado.
“Todo escritor quer e precisa ser lido. Quem não gosta de se reconhecido, bajulado? Podem falar mal também, mas falem!”
“Não posso acreditar que você acredita nisso. Se alguém escreve de outra forma que não seja a melhor que puder, está destruindo seu próprio talento.”
“Olha, sei que você só quer ajudar, mas essas são as minhas ideias e só eu decido como devo concluir o meu livro.” Colocou o outro pé na grade se apoiando com as duas mãos no guarda corpo. Sempre fazia isso quando estava na varando.“Já decidi que ...”
“Suas ideias? Realmente acredita que essas ideias são suas? Plantei cada semente na sua cabeça. Induzi você a dar cada passo até aqui. Não pode estragar tudo agora, me decepcionar.” O outro andou pela varanda, sua voz tão mudada que não poderia reconhecê-lo como a pessoa com quem tivera longas conversas.
“Não sei como pude ver algum potencial em você. Eu dei vida a esse projeto. Soprei no seu ouvido aquilo de bom que você escreveu. Você é um mero digitador. Um fantoche. Um farsa, uma grande fraude.”
“Você só pode estar ficando maluco!” Não era do seu feitio se alterar, mas esse cara tinha passado dos limites.
“Você é um imbecil, um preguiçoso, um desperdício de oxigênio. Olhe para você. Imagina que alguém assim poderia produzir alguma coisa original, alguma coisa de qualidade, alguma coisa que despertaria o interesse de outras pessoas?” O homem derramava as palavras cheias de ódio, embora falasse baixo todo tempo.
“Que ideias você teve que ainda não foram usadas milhares de vezes antes e de uma forma melhor do que você jamais poderia sonhar?” O visitante falou em tom de desafio.
Maurício sentiu o calor da raiva se acumular no seu corpo. Queria dar um belo soco no idiota pretensioso. Iria botá-lo para fora de sua casa feito um saco de lixo.

Antes que pudesse agir, sentiu as mãos do outro na suas costas e o seu último pensamento foi um misto de medo e arrependimento que durou menos de um instante antes do seu corpo frágil encontrar o chão.
R.M.Marron
****
Está sendo uma ótima experiência ir postando no Wattpad e no blog a medida que escrevo, pois me força a não procrastinar. E olha que eu sou boa nisso! Espero que gostem.  Opiniões e críticas construtivas são bem vindas. :)

Comentários

Postagens mais visitadas